sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O ESPANTALHO QUE ASSUSTOU SÍLVIO SANTOS E DESMANCHOU SEU SORRISO


SÃO PAULO - O alto preço que a novela O Espantalho custou ao Estúdio Sílvio Santos de Cinema e Televisão e os baixos índices alcançados na TV Record de São Paulo, média de 6,2 nas pesquisas do Ibope, e o fraco retorno financeiro, foram os principais fatores que levaram a diretoria da Sílvio Santos S.A., empresa holding de um grupo de 19, que pertence a Senior Abravanel, verdadeiro nome do animador - a demitir 21 funcionários da parte técnica, de apoio e trabalho interno e 50 artistas cujos contratos venceram no último dia 5 e não foram renovados, entre os quais Jardel Filho, Vanda Cosmos e Riva Nimitz.


Ficou decidido, ainda, que Nathalia Timberg e Roland Boldrin, os únicos que tinham contrato de um ano, receberão normalmente os próximos três meses, embora não trabalhem nesse tempo, José Wilker, Renê de Vielmond, Edson Franca e Sueli Franco, que praticamente tinham acertado suas contratações, terão agora que esperar os entendimentos com a TV Tupi para a produção de uma próxima novela. Segundo Moisés Weltman, diretor do Estúdio SS, essa espera pode ser de dois meses, ou mais que isso.


O pequeno mercado de trabalho dos profissionais de televisão, teatro e comunicações, viveu alguns dias de euforia, com a concessão de um canal de televisão para o animador Sílvio Santos, em dezembro de 1975 e viveu também mais de um ano de decepções. As esperadas contratações sensacionais, que iriam melhorar os níveis salariais e abrir o mercado de trabalho, acabaram não acontecendo, O Estúdio Sílvio Santos, empresa criada para dirigir o Programa Sílvio Santos e produzir toda a programação artística do futuro canal 11 do Rio, a TV Studio (TVS, hoje SBT), criou suas próprias normas e estabeleceu-se dentro dos padrões da TV Tupi: pagar salários razoáveis, sem grandes desníveis entre os contratados. Na Rede Globo, os grandes astros recebem altos salários, enquanto os outros artistas, pessoal técnico e interno ganham pouco, o que deixa uma enorme faixa entre os dois extremos.

- Nunca havíamos feito novelas. Durante nove meses, tempo em que dá para nascer uma criança, trabalhamos em O Espantalho. Não havia nada. Tivemos de montar um departamento completo e isso custa dinheiro. Não tínhamos know-how e os santos não favoreceram. Gravamos 119 capítulos em nove meses, cada capítulo custou Cr$ 100 mil (o equivalente a R$ 100,00). Apanhamos e ficamos com as cicatrizes. Agora, sabemos que uma novela deve ser gravada no mesmo tempo de sua duração no ar, ou pouca coisa mais. Cada capítulo deve custar, no máximo, Cr$ 50 ou Cr$ 60 mil. Se tivéssemos feito no mesmo tempo de transmissão, cinco meses, teríamos alcançado lucro.


Moisés Weltman, diretor do Estúdio e ex-diretor da revista Amiga, é a pessoa que atende a imprensa para explicar os motivos e as razões que levaram Sílvio Santos a operar demissões e a não renovar contiatos. Assessorado por Arlindo Silva, ele procura -deixar claro que não houve outra saída.

Jardel Filho era Rafael,
Virgílio (Raul Cortez) no remake
Temos aqui uma comunidade com mais de 300 empregados. Tivemos que fazer um pequeno sacrifício para evitar problemas maiores. Temos uma televisão para abastecer. O Sílvio me disse que sua televisão não será nunca de enlatados, que para isso ele nunca teria pleiteado o canal. Gostaria de saber nosso próximo passo. O Sílvio tem a mesma coragem ao tentar e ao desistir, e partir para outra. Ele me disse: eu prefiro demitir e pagar tudo certo do que atrasar os salários. Não quero manter ilusão de emprego. E está certo, ora. Ou será que devia fazer, como a TV Rio, que atrasou oito meses de salário e depois fechou?


- Nós trabalhamos com fatos, não com a fantasia. Vejamos o IBOPE da última segunda-feira, dia 2 de maio. A Tupi teve 5.7, a Globo 47.0, e O Espantalho, no canal 7, 8,3. A TV Bandeirantes chegou a 13.9. Pois bem, se o nosso índice chegasse aos 10, seria um bom negócio. Com índices baixos, os anunciantes não vêm. Na verdade, não sabíamos quanto a novela ia render. Afinal, era a nossa primeira experiência. Não tivemos condições de fazer merchandising (publicidade indireta, como é feito nas novelas da Globo, quando os personagens entram em um bar, por exemplo, e a câmara mostra o anúncio de um cigarro e eles pedem em bom som uma determinada bebida). Teremos prejuízos e não sabemos de quanto vai ser. A novela está inédita no Rio e em outros sete Estados importantes, mas em São Paulo, onde esperávamos muito, os resultados ficaram aquém da expectativa - diz Weltman.

As gravações terminaram dia 29 de abril, embora em São Paulo a novela fique no ar até meio de julho, e será exibida, no Rio em data incerta, como o principal, programa da TV Studio quando a emissora entrar oficialmente no ar. Lançada em janeiro, em um canal de pouca audiência, cujo preço não é alto e fica bem abaixo dos cobrados pela Globo, teve sua parte comercial prejudicada ainda pelo mês de fevereiro, período de tradicional recesso publicitário. Houve pequena melhora em março e abril mas o retorno só começou a ser maior agora, quando restam apenas 40 dias de exibição. Com isso, falharam as previsões de recuperar-se o investimento feito apenas, em São Paulo.

Foi por causa do fracasso financeiro que paramos com as novelas. Entramos em hibernação, paramos para balanço econômico, artístico e comercial. A realidade da televisão é São Paulo, o Rio é uma incógnita. Por causa da decepção financeira concluímos que seria imprudente partir de imediato para outra. Isso nos levou, realmente, a demitir 21 pessoas da parte técnica e interna. Por eles eu choro, são gente que ganha pouco e que agora, ficarão soltos no espaço, já que o mercado de trabalho está ruim. Artista nenhum foi despedido. Eles tinham contratos que terminaram, e pronto. Foram os que menos sofreram e são os que mais choram. Mas todos receberam em dia, coisa que não é fácil acontecer hoje em dia. E olhe, ainda tentamos arrumar emprego para muita gente.


Entre os demitidos havia pessoas que largaram 11 anos de TV Tupi para trabalhar com Sílvio Santos.
Além de Nathalia Timberg e Rolando Boldrin, os primeiros artistas a serem contratados e os únicos com contratos de um ano (os outros assinaram, por seis meses, com opção de mais 3 meses), o Estúdio Sílvio Santos manteve ainda os diretores José Miziara e David Grimberg e a autora Ivani Ribeiro, cujo contrato vai até 1980. Moisés:



- Não queremos abrir mão de Ivani, o que prova que temos intenções de continuar com novelas no futuro. Fomos forçados a fazer esta economia agora, de aproximadamente Cr$ 1 milhão 500 mil mensais, mas continuamos a produzir o programa do Sílvio e a fazer shows, humorismo e musicais. Temos dois estúdios em perfeitas condições de uso, mais dois que podem ser ativados com um mínimo de esforço, caminhão, de externa, sofisticado aparelhamento técnico. Utilizamos parcialmente nossos recursos, e há uma capacidade ociosa. Quando a TV Studio entrar de vez na briga, teremos de alimentá-la. Não jogamos a toalha.

Há três hipóteses para o aproveitamento imediato de Ivani Ribeiro:


1 - Ela está escalada para escrever a próxima novela, caso os entendimentos com a TV Tupi cheguem a uma conclusão;


2 - ela pode escrever programas especiais, como teatro na TV, ou na linha dos casos especiais da TV Globo;


3 - ela pode ser emprestada para a Tupi, que pagaria seus salários durante certo tempo.
(Ivani acabou se transferindo de vez para a Tupi onde escreveu ainda em 1977 o grande sucesso "O Profeta")


Se a novela fosse exibida na Globo dava mais de 50 de IBOPE. Nós ainda tentamos encontrar um bom horário e descobrimos que às 21 horas, em São Paulo, não há novela. Não sei se foi bom ou ruim essa nossa escolha, diz Moisés Weltman.


Jornal do Brasil


Assista um trecho de O Espantalho, em cena Nathália Timberg e Jardel Filho.

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